#Dia 38 – 14 de Fevereiro, de mim para mim

14 de Fevereiro… recordo-me agora que este foi talvez o dia que marcou mais seriamente a minha decisão de deixar o meu trabalho por algum tempo, fazer as malas e partir.

Não sei se devia escrever sobre isto, mas é a mais pura das verdades. Há exactamente um ano as minhas ideias deixaram de ser apenas ideias, e comecei activamente a pensar num plano para tornar este sonho (bom) uma realidade.

Nunca liguei muito à data nos anos anteriores, mas lembro-me que nessa noite todo o meu Facebook e Instagram estava polvilhado de amigos em relações aparentemente felizes e, muitos deles, já com os seus rebentos – estes seriam efectivamente “o amor da sua vida”. E, na escuridão de um quarto vazio, enquanto fazia scroll com o telemóvel tentando chamar um sono que teimava em não vir, percebi que não era isso que queria para mim.

Não que não quisesse uma relação feliz, muito pelo contrário. Os últimos anos foram avessos a alguma estabilidade, apenas encontrada uma vez em mais de 7 anos de ausência da pessoa que sempre me fez mais falta (mas que teimava em visitar-me em sonhos com uma regularidade inaceitável), e depois recentemente junto de uma enorme amizade nunca concretizada em nada mais.  Durante 7 anos andei emocionalmente à deriva, num verdadeiro craving por algo que me completasse e que teimou em não aparecer (ou, na verdade, que eu nunca deixei que aparecesse). E, em relação à criação de uma família no sentido da palavra “descendência”, decididamente não era isso que pretendia para já.

Ver tantas fotografias de amigos/ conhecidos e os seus pequenos não era para mim. Por favor, não me interpretem mal.. Mas, naquele momento, esse não era mesmo o caminho que eu queria levar, sedenta de ver e viver tanta coisa, de correr o mundo sem prazo e sem destino, de voltar a ser inteira com a pessoa mais importante: eu própria. Não há como conseguir dar aos outros quando se tem um vazio tão grande por preencher, e nessa área da minha vida eu sentia-me como um saco sem fundo.

Nessa mesma noite um texto de Steve Jobs, escrito pouco antes de falecer de neoplasia do pâncreas, ajudou-me no impulso final, despertando em mim o “gigante adormecido” que teimava em manter enjaulado através de horas de trabalho e algumas actividades lúdicas, alimentado mediocremente com a pequena quantia de 22 dias de férias anuais.

 

“Agora sei que quando tivermos acumulado o suficiente para viver confortavelmente até ao fim dos nossos dias, devemos perseguir outros interesses que nada tenham a ver com dinheiro ou riqueza… Devia ser algo que seja mais importante: talvez relacionamentos, talvez arte, talvez um sonho de quando éramos jovens…”

“O amor pode percorrer milhares de milhas. A vida não tem limite. Vai onde queres ir. Alcança o mais alto que quiseres alcançar. Está tudo no teu coração e nas tuas mãos.”

“Coisas materiais perdidas podem ser encontradas de novo. Mas há uma coisa que nunca poderá ser recuperada depois de perdida – a Vida. Quando uma pessoa entra na sala de operações, apercebe-se que há somente um livro que não acabou de ler – o seu próprio livro para uma vida feliz (ou saudável). E qualquer que seja o estadio de vida em que estás agora, em qualquer altura vai chegar o dia em que as cortinas vão descer.”

 

Numa das minhas despedidas, uma pessoa não muito próxima de mim abraçou-me com força e disse-me “espero que encontres o que procuras”, ao que eu respondi espontânea, natural e imediatamente “o que eu procuro vai cá ficar…”. Sou uma crente no amor e na força que ele tem, mas, ao contrário do que diz a canção, não se pode nem se deve “amar pelos dois”. Nesta jornada, o meu amor será unidirecional, e voltado apenas para mim própria.

Obrigado aos meus amigos, conhecidos e seus filhotes por, sem sequer se aperceberem disso, me terem ajudado a (tentar) encontrar o meu caminho.

 

# Podem ler o texto completo com as notas finais de Steve Jobs aqui.

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