Crónicas de um voluntariado em Beirut - I
“If not now, then when” era a frase escrita numa tatuagem que aguardava à minha frente na fila do aeroporto. A mensagem era claríssima, e se dúvidas houvessem nesse momento dissiparam-se por completo.
Há decisões que têm de ser assim – irreflectidas, tomadas com o coração. Em que temos de pôr de lado o medo, o cómodo e o fácil e trazer ao de cima aquilo que temos de melhor.
As explosões de Beirut deixaram-me abalada não só no imediato mas sobretudo no dia seguinte. De folga, no sossego e conforto da minha casa, via e revia as imagens como se fosse sempre a primeira vez. Mas não era um filme, era real. Hospitais que fechavam por risco de colapso, equipas sem mãos a medir, pessoas enviadas para casa sem assistência porque não há capacidade de resposta. Essas e tantas outras coisas, ampliadas quer por gritos quer pela imagem da senhora ao piano cuja casa foi destruída.. como se a melodia a levasse para algum resquício de paz interior que a pudesse sugar deste mundo.
Quando me deu “o clique” foi de repente. Nas horas seguintes tentei contactar várias entidades em Portugal, sem sucesso. Não tinha CV, ou Curso X, ou candidatura prévia, ou experiência. “ou, ou, ou”, “se, se, se”. Disseram-me que “não era elegível” e que “concorresse para a próxima”.
Passou um dia inteiro e de alternativas nada. No Líbano as coisas cada vez piores, a noção do caos cada vez mais real, a chama que em vez de se extinguir cresce agora com acendalhas de dor e revolta contra um sistema negligente.”
“Esta manhã cheguei sozinha a Beirut. Não podia ficar mais à espera. Vou ficar a dar apoio voluntário, de livre iniciativa e responsabilidade, no primeiro hospital que me deixar entrar.
Ao Hospital da Luz de Lisboa agradeço a resposta imediata que me foi dada quando pedi doação urgente de material hospitalar.
A ti que estás em casa, peço-te que me ajudes de outra forma.. Estou a recolher donativos para entregar a uma ONG relacionada com apoio médico à catástrofe, ou a outra entidade a quem reconheça credibilidade nestes dias em que vou estar na cidade. Basta enviares o que puderes, por Mbway, para o tlf na bio. E, se não puderes… partilha com quem puder.”