Beirut – Crónicas de Voluntariado (III)

Crónicas de um Voluntariado em Beirut - III

- sobre destruição -

           No momento em que se deu a explosão em Beirut, não foi apenas património físico que se perdeu.


          Da primeira linha de edifícios em redor do porto só ficaram marcas da destruição das fachadas e interiores – de tal forma que em muitos casos não se percebe inclusive se os apartamentos pertenciam a casas ou a escritórios. Não há vestígios de incêndios, nem paredes queimadas, nem balas.. esta “guerra” é diferente. Tudo o que é caixilharia, madeiras ou vidros, numa distância de até 20Kms, sofreu danos. Os conteúdos foram simplesmente varridos, tornados em escombros.


          As toneladas de cereais armazenados nos silos e que se perderam são difíceis de contabilizar – fala-se que seria o suficiente para 1 ano, 4 anos ou apenas escassos meses .. – afinal de contas, informação oficial é algo que aqui não existe ou vale muito pouco.


          A explosão que todos pudémos ver nas televisões alimentou ainda mais a fúria retida destas gentes, o descrédito do governo, a revolta e a descrença, num país que “quase sempre” viveu no seio de conflitos.

Numa cidade com bastante mais de 2 milhões de residentes declarados no último censos (2007), o Líbano é também um país com igual número de refugiados que tentaram fazer de Beirut um novo lar, fugindo das guerra na Síria, Palestina e Iraque. É um país com um conglomerado de problemas sociais, políticos, económicos, a braços com uma pandemia e com uma explosão verdadeiramente devastadora.


          Não é apenas a destruição que se vê, é a que se sente.. a que se tenta ocultar no interior de pessoas resignadas com o infortúnio do destino que lhes calhou mas que quebra num abraço ou num simples obrigado.

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