Crónicas de um voluntariado em Beirut (VIII)
- sobre o poder de uma ideia -
Há 15 dias dava por mim regressada de Beirut, cansada e frustrada mas de coração cheio. Não sabia na altura o que ainda vinha por ai, mas tinha ainda 4 mil euros no bolso em donativos que me tinham sido confiados ainda em Beirut e precisava de lhes dar “vazão”.
Logo no dia seguinte, comecei a emitir dezenas de emails (que já quase chegam aos 200..) para todas as farmacêuticas, grupos de farmácias e grandes entidades de que me lembrei, a pedir doações de medicamentos e material.
Mas, tal como as melhores coisas da vida, não as encontramos quando procuramos mas sim quando decidem aparecer na nossa vida. Uma Associação que não conhecia (a Romã Azul) ofereceu-se para pagar os custos inerentes ao envio de um contentor, e metade dos problemas logísticos ficaram resolvidos. Faltava enchê-lo.
Também no dia seguinte à minha chegada as mensagens ainda se multiplicavam em pessoas individuais, e tive a ideia de fazer um grupo de whatsapp entre aqueles que eram os “mais activos”. Hoje somos mais de 30, pessoas incansáveis e totalmente comprometidas e ajudar(-me!!, e a Beirut).
15 dias após o meu regresso, estão preparados 20 caixotes com quase 300Kgs de donativos prontos a entregar. Chegam-me sacos em mão, quer no trabalho quer em casa. Pessoas organizaram-se por todo o país para fazerem recolhas. Nasceu uma música, que deu voz à nossa iniciativa, e um desenho que a ilustrou.
Algo aconteceu e não sei o que foi. Não sei se fui eu que toquei as pessoas, se a explosão, se as notícias na TV. Nunca vou saber. Mas há uma coisa de que tenho a certeza absoluta – uma pessoa pode mudar o mundo. Não interessa quem, não interessa a nacionalidade, não interessa se temos ou deixamos de ter uma organização ou estrutura por detrás de nós, não interessa…. nada. Basta querer. No meu caso, eu só quis ajudar, não esperava nada disto. Mas isto ensinou-me que todos temos o poder de fazer alguma coisa.