#Day 1 – “Tens a certeza que vais para a Costa Rica?..”

# Day 1

“Andreia, tens a certeza que vais para a Costa Rica?” – brilhava a mensagem no ecrã do telemóvel, a janelinha verde do whatsapp a trazer-me uma conversa iniciada pelo meu pai uma horas atrás e que só agora chegava até mim. Olhei perplexa e só pensei numa expressão que não posso citar aqui mas que vou simpaticamente trocar por “Está tolo!”. E então… caiu-me a ficha. Mas já aí vamos.

Semana (semanas?!) de despedidas longa, intensa e bem vivida. Isto de fazer anos logo no início do novo ano, aproveitando ainda a senda do natal, dos jantares de trabalho e ainda culminar com uma festa para dizer um “vou ali e já volto” estava a ser bom mas claro que não podia ser o suficiente. O que é da vida sem um pouco de surpresas, sem o destino a trocar-nos as voltas?! Ainda oiço a minha mãe – ontem na sala – enquanto eu descontraidamente olhava o telemóvel: “estás muito tranquila” dizia ela para rematar o que o meu pai também tinha comentado há uma meia hora atrás. E estava.. tinha tudo tratado, organizado, os primeiros tempos mentalmente desenhados. “Só levo 3 noites marcadas, mas sei para onde vou!! Vou andar por ali, pela Costa Rica! E depois desço para o Panamá…”.  Já tinha repetido mil vezes.

Posto isto, nasce o dia, enfiam-se as malas no carro, parte-se para o aeroporto. Ia com destino a Nova Iorque, sabendo que teria de chegar a Newark com a rapidez suficiente para daí apanhar o avião que me levaria a San José, capital da Costa Rica. Não era uma escala longa; duas horas e meia, considerando os aeroportos dos Estados Unidos e as suas burocracias, era escasso. Aterrámos com mais de 45 minutos de atraso, contrariados pelos ventos fortes que nos acompanharam durante a viagem e ao que se juntou uma pista repleta de gelo com período de espera para chegar à manga de desembarque. Puxo a mochila com todas as milhentas coisas que trouxe comigo, e assim que abrem as portas corro para os procedimentos de desembarque, onde encontro centenas de pessoas à aguardar (pacientemente?..) a sua vez. Já tendo estado nos Estados Unidos em escala em Maio do ano passado, sabia que este panorama não abonava a meu favor. Choradinho ao segurança não deu frutos. E Fast Lane para passageiros em voo de ligação?.. não deverão ainda saber o que é. Com 1:20h para chegar à nova porta, estava condenada a perder o avião. Percorro a linha interminável de pessoas com os olhos e encontro uma Fast Lane para Diplomatas… praticamente sem fila. Typical me, não podia deixar de arriscar. Choradinho número 2, faça-me este favor que tenho pressa!! E perguntar nunca fez mal a ninguém, não é verdade? Contrariado, após insistência, o segurança lá acedeu em verificar a minha documentação e deixar-me passar. Sim, gosto de igualdade de sexos, mas sei que nestas coisas, ser “rapariga” ainda ajuda!..

Nova corrida para o tapete, que ainda havia outra mochila para levantar e um check-in para fazer. O relógio em contra-corrida, chegam duas, três, vinte, quarenta malas e nada. Por conselho de quem estava a dar apoio a estes turistas cheios de pressa, acato a sugestão de deixar a mochila para trás, confiante que graças ao serviço de tracking que tinha adquirido em Lisboa ele chegaria.. a San José.

Siga! Corre. Já em Lisboa tinhas corrido até à porta porque te tinhas distraído com as horas. Não estás a falhar ao teu padrão. A minha consciência já começava a pesar-me e deixou-me o alerta: “vê se atinas que isto ainda é o primeiro dia. Que te sirva de aviso para seres mais prudente.”.

Mais procedimentos de segurança e alcanço por fim a Boarding Gate das Alaska Airlines, sentando-me tranquilamente (sempre tranquilamente!) em novo voo cheio. Apercebo-me que um dos equipamentos vinha de bateria ligada e a desperdiçar calor… e fico danada com estes guardas que mexem e remexem em tudo, abrem e fecham malas e carregam em botões sem saber que podem queimar um equipamento com essa facilidade.  Toca de abrir a mochila toda novamente… sai máquina fotográfica, saem objectivas, sai computador. Saem livros. Sai blusão. Sai sacola do drone, que vinhas tão arrumadinho (e tão quentinho!…) lá do fundo do teu embalo.

Lamento pelo casal que está ao meu lado, certa de que já me mexi demasiado. Vou ficar quietinha até ao final da viagem, prometo… mas, já agora, servem refeições a bordo?!.. não serviam, que isto é uma low cost. E, no meio do meu desalento de barriga a dar horas e a preparar a saída da primeira nota do envelope sagrado, alterno a leitura de um livro com o remexer do telemóvel e dos panfletos de marketing da companhia.

Constato assim para meu espanto que, apesar de não trazerem o bem essencial desde o início dos tempos que é a comida, oferecem um serviço de internet chat gratuito, esse outro bem essencial do século XXI. Toca de ligar o wi-fi e finalmente verificar todas as mensagens que me foram enviadas ao longo do dia por aqueles que, tendo ficado, me acompanham à distância.

Não sei que horas são em Lisboa. “Allooooo! Está ai alguém?? Carolina?” E então abre-se uma janela verde.. “Tens a certeza que esse voo vai para a Costa Rica?”. Como assim, se não tenho a certeza?. Então, vou a caminho de San José! Ainda estou no avião!! Que tem net, pensei eu gabarolas. “É que aqui no tracking está a dar que estás a ir para a San José – Califórnia”. Tinha comprado o voo errado.

Resumo do Dia 1, antes das “novidades”

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