Não sei se acontece convosco, mas há músicas que me dão calafrios aos primeiros acordes. Não demoram dois segundos a percorrer a espinha, qual impulso electrico mal controlado, demorando-se com um nó na garganta e largando fogo de artifício por todo o córtex cerebral. America, dos Razorlight, é uma delas. Lembra-me viagens demoradas de carro, as mãos no volante, o cabelo ao vento e o olhar perdido no horizonte. Podia dizer que já a conhecia antes, tal como já conhecia São Francisco. Mas, e uma vez mais como com São Francisco (que fica muito próxima de San José e onde fui aterrar por engano), há coisas que vêm de mais atrás, de mais de dentro, de muito profundo.
Voltar a esta cidade é nunca ter partido dela. Não há muitos sítios que me façam sentir assim, e também não o sei explicar.
Poderia dizer que se deve ao ritmo frenético de uma grande metrópole, às suas colinas e estradas inclinadas, às casas elegantemente desenhadas com os seus traços vitorianos, aos grandes parques e jardins que convidam ao ócio, aos museus e intensa actividade lúdica, à multiculturalidade emergente em bairros especificos (como Chinatown, Little Italy, Little Saigon ou Japantown) que se encontra e mistura por igual nos circuito de transportes, à grande Golden Gate Bridge que tanto relembra a nossa Lisboa ou ao simples facto de, numa cidade de milhões, haver pessoas que mais do que acederem a um pedido de boleia de 2Km ainda nos levam a tudo o que se poderia desejar ver em poucas horas.
Há alturas em que não sabemos porque acontecem determinadas coisas, porque se escreve direito por linhas tortas. Só podemos celebrá-las e sentir-nos humildemente gratos por elas.