#Dia 10 – 17 Janeiro, um dia histórico no Hawaii

 Ainda não são 7h da manhã e o despertador já tocou 3 vezes, uma por cada 10 minutos decorridos desde as 6:30h. Não o meu (que desde que parti ando “ao sabor do vento”, como se costuma dizer), mas do meu host de couchsurfing que partilha comigo o seu pequeno T0. Pela primeira vez desde que estou “do lado de cá” – livre de preocupações e de obrigações profissionais – penso como é duro levantar cedo quando o corpo tanto pede para ficar mais um pouco, chegando mesmo a achar que é violento e contra-natura o que a sociedade nos impõe.

Toca novamente, o relógio a bater as 7h, o velho tom polifónico curiosa e exactamente igual ao que eu usava há 10 anos atrás e a remeter-me para os tempos em que estudei em Paris. Mas hoje já não estou em Paris, nem sequer na Europa. Já não sou aluna, mas mantenho-me estudante: viajar é também uma forma de aprender, uma escola de vida que não se adquire nas mesas da sala de estudo. Ia perceber isso mais cedo do que pensava.

Salto do colchão que me acolheu pronta para aproveitar o dia na zona central de Honolulu, que ainda não tive oportunidade de conhecer. Uma senhora loira, já provavelmente perto dos seus 70 e muitos anos, indica-me que autocarro tomar. A rede de transportes cobre extensamente a cidade e leva-nos a qualquer ponto da ilha por apenas 2,75 dólares (ou 5,50 dólares diários). Para residentes séniores, o passe anual fica-se pelos 30 dólares.

Chegada à baixa de Honolulu, apercebo-me de que hoje será um dia diferente: por todos os acessos que levam ao Capitólio começam a chegar adultos com trajes tradicionais, mulheres com bebés e crianças com uniformes escolares. Naquele, a população aglomera-se enquanto presta homenagem à Rainha Lili’uokalani, juntamente com deposição de coroas de flores havaianas, bandeiras e música. Reparo que várias pessoas ostentam cartazes de carácter político, vindo a perceber que hoje não é um dia igual aos outros. Faz hoje 125 anos que os Estados Unidos da América tomaram o arquipélago havaiano, depondo a rainha e mantendo-a prisioneira do seu próprio palácio durante os 9 meses seguintes até estabilização do novo governo.

Frente ao palácio (o único monumento do estilo em toda a nação dos Estados Unidos), famílias, indivíduos com relações monárquicas e representantes de várias regiões insulares ostentam com orgulho trajes com as cores do reino – o vermelho e o laranja -, aguardando pela chegada da procissão que finalmente rompe o portão com os seus cânticos, bandeiras e orgulho. Com um forte espírito de património, os havaianos distinguem-se facilmente de todos os restantes não só pelas suas vestes como pelos seus traços faciais característicos, não se vislumbrando pessoas de traços ocidentais.

Esta é uma manifestação pró-independentista pacífica, sem conflitos. No geral, os seus interesses representarão cerca de 30% da população nativa e, como tal, fazem questão de ressalvar que não se trata de uma celebração mas sim de um dia triste. Assim, vão-se reunindo neste dia e amplificando, ano após ano, a lembrança de um passado não muito distante que não querem deixar esquecer.

famílias e representantes do povo havaiano
bandeira havaiana com a mensagem “End USA Occupation”
Manifestações pró-independentistas frente ao Palácio
Manifestante pró-independentista envergando trajes tradicionais

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