Não é fácil chegar a Puerto Tranquilo. Desde El Chaltén, é necessário apanhar o autocarro nocturno de 12h até Chile Chico, onde chegamos pelas 8h da manhã. Daí e após uma noite de muito pouco repouso, apanhar um táxi até à fronteira, cruzá-la caminhando na terra de ninguém por cerca de 2 Kms e apanhar novo meio de transporte – neste caso um shuttle privado (e muito regateado…) de quase 4 horas ao longo linda mas assustadora da Carretera Austral, uma estrada que rasga a montanha junto a grandes escarpas e penhascos.
Chegamos tarde e cansados, fazendo um esforço adicional para procurar o melhor negócio quer para a excursão do dia seguinte quer para alojamento. Encontramos um camping com tendas estilo “hospital de campanha”, cada uma para 5 pessoas, pela qual pagamos 6000 pesos argentinos (cerca de 8,5 euros) pela noite. Ao deitar-me, faço por proteger ao máximo o corpo do frio e a face da almofada e cobertores que, quase de certeza, nunca terão sido lavados.
Porquê tanto esforço? Porque há alguns anos atrás ouvi falar nas Caves de Mármore chilenas e prometi a mim mesma que um dia as veria com os meus próprios olhos. E hoje, Domingo de Páscoa, não só as pude ver como também navegar por entre elas – o kayak a deslizar tranquilo por entre as águas frias e transparentes (ao longe de um turquesa límpido) e as mãos a tocarem na rocha branca acinzentada.
Frequentemente, não temos noção do impacto de que pequenas decisões terão nas nossas vidas. Há muitos anos atrás, ainda no ensino secundário, pertenci a um grupo de actividades chamado “Clube do Mar”. Fiz muitas horas de prática de vela e kayak devido a esse grupo… e agora não tenho dúvidas de que ele me preparou, que ele me trouxe ao momento de hoje em que pude tirar o máximo proveito desta oportunidade. Estou a viajar há quase 3 meses e hoje tive das 3 horas mais felizes da minha viagem. 3 horas que não esquecerei nunca e que, à semelhança de outras experiências que tenho vivido, não consigo descrever por palavras tal foi o fascínio que senti. Deixo só pensamento que repetidamente ocupou a minha mente e que partilho antes das fotografias: o homem (ou, neste caso, o turismo de massas que este lugar certamente despertará com o tempo) não devia nunca poder destruir aquilo que a natureza tão elegantemente criou.