Estive em Madagáscar em Setembro de 2016, numa experiência cultural enriquecedora e irrepetível proporcionada pela agência de viagens de aventura Nomad e liderada pelo amigo Bernardo Conde. Se nunca estiveram em Madagáscar, não posso deixar de recomendar esta viagem!.
Estes são excertos dos meus registos dessa viagem, os mesmos que constituíram a base do que é hoje este blog.
13 Setembro 2016
Acordamos na casa do séc. XVIII de Gustave, em Manandona .
The effort to banhos were a to be relax of water.
Depois disso, uma caminhada pela aldeia, aqui e tudo em tijolo, e passeámos pelos verdes campos de arroz.
Os fios da planta de arroz são delgados e macios. Crevam-se facilmente na terra trabalhada pelos homens e cultivada pelas mulheres. Ajudei a plantar o arroz – “repiscagem”, em linha como manda a arte local.
A circuncisão é uma prática habitual e é feita pelo médico ou ancião da aldeia, até aos 2-3 anos de idade. Se não forem circuncidados não podem receber herança ou aceder aos templos mortuários. Segundo a antiga tradição, o prepúcio é oferecido ao avô juntamente com fatias de banana..
Visitámos também uma casa onde se produzem lenços de seda (2 tipos), e onde explicam todo o processo de manufactura.
As crianças repetem o nosso nome sem qualquer dificuldade. Os risos, os sons das galinhas e dos pássaros ouve-se por todo o lado. “Vaza, vaza, photo!!” É a melhor coisa que lhes podemos oferecer. São genuínos.
14 Setembro 2016
Amanheceu cedo e eu e a Gabi descemos a rua principal até ao mercado. As pessoas acenam espontaneamente, querem apenas um cumprimento em retorno. “Salama!!”.
Comprámos dois coloridos chapéus de palha e passámos a ser Madame Butterfly e Madame Maripose.
O mercado tinha sobretudo alguns legumes, mandioca, sementes e carvão. Passámos por um cabeleireiro, uma luta de galos e uma banca de música, onde “simpaticamente” começaram a passar uma música sobre os Vázás.
Seguiu-se a viagem atribulada, na carrinha amarela até Antoetra, capital da região dos Zafimaniry, terra de artesaos onde iniciámos a descida de 11Km até Sakaivo. Ao início tudo fácil!! Trajecto a direito, tranquilo. Avistamos o monte, e ao longe a aldeia bem no fundo do vale. 1200m de descida bem íngreme, directamente sobre a pedra ou através de tijolos cimentados ou escavados no calcário.
A vista bem focada para impedir escorregadelas. E finalmente chegamos à aldeia com cerca de 600 habitantes, onde somos recebidos pelo ancião de 72 anos (num país em que a experiência média de vida é de 55 anos), pelas mulheres a proporem ricos entrançados no cabelo e pelas crianças.
Jantar regado a brindes de rum com laranja, ananás e mel, e noite numa cabana tradicional. Música até de madrugada, por ocasião de um casamento.
15 Setembro 2016
Houve festa toda a noite, e tomámos o pequeno almoço as 6h. Hoje havia mel para barrar no pão torrado. Começámos a aventura da subida pelas 6.40h e atingimos o cume 45min depois. Pé ante pé, degrau após degrau, um passo de cada vez. A respiração cada vez mais pesada, puxada a custo a cada metro cada vez mais íngreme, mais instável, mais penoso. A névoa adensava-se e, embora a esconder a magnífica vista da véspera, fez da sua companhia e frescura desejada e bem vinda. A chuva ligeira, embora ameaçando o resvalar dos pés sobre a pedra áspera, foi uma bênção inesperada.
E, por fim, o topo. O caminho é um percurso emocional. As pernas e o espírito correspondem aquilo que a mente comanda. Ânimo ao alto!! Chegámos todos, cada um a seu ritmo, mas no todo uma celebração em conjunto, saboreada individualmente com o orgulho de quem venceu uma prova física que se adivinhava árdua.
Panratos – pastores que atravessam o país a pé, em direcção a Tana, chegando a percorrer mais de 700Km para vender zebus. O pagamento equivale a um animal.
Fianarantsoa é a quarta cidade mais povoada de Madagáscar, classificada como património da UNESCO e uma das 100 mais ameaçadas devido à incapacidade de manutenção dos edifícios.
16 Setembro 2016
Trrrummm tum tum, trrrummm tum tum, trrrummm tum tum’
“Soava dia!”
Apesar dos atrasos esperados, pouco passava das sete horas quando parte da gare de Fianarantsoa o comboio verde, de linhas suíças e ainda adornado com gravuras da década de 50 repleto de turistas, malgaxes e suas mercadorias.
Adivinhava-se uma viagem longa de 160Km, sem previsão da hora de chegada, cuja duração na melhor das hipóteses chegaria às nove horas.
O comboio irrompe pela floresta, embrenhando-se progressivamente numa selva cada vez mais densa que faz recordar as reproduções dos tempos pré históricos e de onde se avistam ao longe os montes e campos de arroz.
Pelo trajecto vão-se sucedendo, uma a uma, as dezassete terras que marcam o passo desta viagem. Os habitantes destas aldeias vivem de e para esta linha de comboio e seus viajantes, percebendo-se o quanto a mesma é importante para a economia local – esta linha, e por conseguinte o comércio, só é utilizada três vezes por semana, à terça, quinta e sábado.
Homens descarregam mercadorias. Mulheres e crianças acotovelam-se para serem os primeiros a vender os seus produtos. As ofertas variam entre aquilo a que já vamos sendo habituados: fritos diversos e amendoins. Alguns pontos são ricos na produção de banana, o que motiva mais uma fritura, um amassado de arroz com banana envolto em folha de bananeira ou a simples venda do fruto em grandes cachos. O artesanato é inexistente e apenas numa aldeia se tentam vender colares à base de bagas e sementes. As pessoas são então claramente mais pobres, mais necessitadas e aparentemente mais tristes do que noutros locais visitados.
O dia transfigura-se e começa a dar lugar à noite, que cai devagar mas acompanhada de neblina. O comboio segue em frente, com pausas demoradas que custam cada vez mais a passar. Em 12 horas de viagem, temos apenas metade do percurso completo. O entretém, praticamente às escuras, faz-se entre pequenos sonos, jogos e até uma sessão de poesia. A cada paragem mais aldeões a vender, mesmo perante o escuridão e a chuva.
‘Trrrummm tum tum, trrrummm tum tum, trrrummm tum tum’. O som dos carris anuncia a chegada a Manakara ao fim de 19 horas.
17 Setembro 2016
A piroga desliza suavemente sobre o rio, intercortada pelos solavancos induzidos pela força de sete homens que cantam alegremente, como se a força melodiosa das próprias palavras a pudesse empurrar.
Manakara é finalmente o espelho da nossa imaginação malgaxe. É verde, fresca, tropical. Tem canal e mar. Tem palmeiras, embarcações simples dos pescadores e cocos perdidos pelo chão. E tem do melhor marisco que já encontrei. As cestas coloridas, esteiras e pequenas carteiras feitas manualmente em tabua são o sustento dos locais, juntamente com o peixe, pimenta e outras especiarias. De construção a datar da década de 40, a cidade é diferente de todas as anteriores, polvilhada por edifícios icónicos que relembram os tempos coloniais franceses.
18 Setembro 2016
Sucedem-se as aldeias com um comércio vibrante, sobre a paisagem que se mantém verde, rica em Palmeiras de Leque que são também as Árvores do Viajante. Paramos a meio do percurso para um banho em Ranomafana, que significa literalmente “água quente” uma vez que esta zona é conhecida pelas suas águas termais a 30ºC.
19 Setembro 2016
Em Ambalavao sentimo-nos dentro do cenário de um filme, com velhas casas de tom ocre em madeira e tijolo, varandas em azul ou verde e música de fundo a reforçar o tom descontraído da cidade. Tem uma avenida principal que dita o comércio local e alguns edifícios sociais como uma igreja, a câmara municipal e a zona do mercado.
A 15Kms de distância entramos em nova região montanhosa que alberga a reserva natural de Anja. Embrenhamo-nos uma vez mais na floresta granítica, ao longo da qual vamos encontrando camaleões, lagartos e lémures.
Os lémures vivem em comunidades de 15 a 20 elementos, contando a reserva com um total de cerca de 300. Existe uma fêmea dominante para cada conjunto de machos, sendo a época de acasalamento entre Abril e Maio e as gestações (no máximo gemelares) de cerca de 5 meses. A alimentação é à base de folhas e bagas.
A escalada pela pedra áspera, com passadas cautelosas e mais ou menos certeiras leva-nos ao cimo de 3 picos para uma vista deslumbrante e desafogada sobre Anja.
20 Setembro 2016
A alguns kms de Ambositra pratica-se uma forma de arte curiosa, uma técnica de embotimento de madeira de diferentes tonalidades cujo conjunto forma uma tela única e de grande detalhe. O trabalho dos seus artesãos pode ser encontrado (e encomendado) no site IDOM ART.
Antsirabe (séc.XIX) recupera o traçado colonial, patente nas avenidas largas e em edifícios como a Gare de comboios, a Câmara Municipal, os Correios ou o Hotel des Thermes.
Para jantar, a guesthouse Chez Billy oferece uma boa variedade de pratos típicos com música ao vivo.