Quem passa por Coimbra mas fá-lo de passagem… afinal não conhece Portugal. Atrevo-me até a dizer que não só passa ao lado de uma das cidades mais emblemáticas do país como ainda perde parte daquilo que é a nossa cultura e essência enquanto portugueses. Costuma-se dizer que “à terceira é de vez” e comigo não foi excepção – foi desta que fiquei a conhecer a cidade. Por isso, desafio-vos a fazer o mesmo: com este Roteiro de 1 dia em Coimbra vais percorrer as ruas, cruzar as praças, encantar-te com as ruelas e descobrir o melhor que Coimbra tem para oferecer.
Em Coimbra respiram-se as noites académicas, as capas negras, as batinas brancas, as serenatas, os fados, a saudade e o amor. Porque haverá maior história da nossa História, no que ao amor diz respeito, do que a de Pedro e Inês?
Roteiro de 1 dia em Coimbra
Coimbra desenvolve-se na encosta que olha o rio Mondego, sendo o seu elemento principal e imperdível o complexo da Universidade de Coimbra – Património Mundial da UNESCO. Mas esta cidade que já foi capital de Portugal tem muito mais para ver.
O nosso Roteiro de 1 dia em Coimbra – preparem-se, é para andar bem! – começa bem alto, no Miradouro do Penedo da Saudade. Que melhor local para se começar uma visita do que com uma vista ampla sobre a cidade e a Serra da Lousã, que transpira história universitária?? Aparentando (erradamente!) um cemitério para os olhos mais distraídos, este jardim alojado na colina ostenta dezenas de placas em pedra que relembram lápides mas que, no fundo, são a homenagem solene de vários cursos académicos, de vários anos, que por Coimbra passaram. Segundo a lenda, o nome deve-se a D.Pedro, que aqui vinha a tragédia que se abateu sobre o seu amor com D.Inês de Castro.
Continuamos para o Seminário Maior da Sagrada Família (1748), que se encontrava em obras de restauração aquando da minha visita. É dotado de um jardim com uma nave central e, numa das laterais do edifício, podem encontrar um baloiço de madeira com vista para a cidade.
Mesmo ao lado está o Jardim Botânico, que merece uma visita mais tranquila do que o tempo que dispunha à data da minha visita. Criado em 1772 pelo Marquês de Pombal, contam-se entre outros pontos de interesse a Estufa Grande, a Mata, o Fontanário e uma capela. De entrada gratuita, é também ele considerado Património Mundial da Humanidade da UNESCO. A entrada principal do Jardim Botânico é marcada por um dos 21 arcos que compõem o Aqueduto de S. Sebastião (ou, mais simplesmente, Arcos do Jardim), datado do Sec.XVI e criado para levar água até à colina onde se localizava o Convento de Santa Clara. Do lado contrário da rua, no número 33, encontramos a primeira República do dia – a República Real Ay-ó-Linda (1949).
Como referido anteriormente, nenhuma visita fica completa sem conhecer o complexo da Universidade de Coimbra, ponto nevrálgico da vida estudantil nacional. A Rua Larga homenageia o seu fundador, D. Dinis, que recebe do alto quem sobe as Escadas Monumentais. São 125 os degraus construídos durante o Estado Novo, e rapidamente me relembram que também eu tinha de “penar” pela subida da Rua das Pretas, em Lisboa, para chegar às Ciências Médicas – afinal, vida de estudante é difícil e alcançar a própria faculdade uma prova de tenacidade. Estas escadas são ainda hoje em dia usadas nas praxes académicas.
Atravessamos a Praça e encaminhamo-nos para a Rua Larga (ou Alameda das Faculdades), passando pelos robustos edifícios da Faculdade de Matemática, de Letras ou de Medicina. A grande Porta Férrea (1634) marca a entrada do núcleo histórico da Faculdade de Direito, ladeada por duas colunas coríntias e adornada no chão com um grande painel de pedras da calçada que representa a Sapiência. Como podemos ler logo na entrada, a Universidade foi fundada em 1290 tornando-se assim a mais antiga de Portugal e uma das mais antigas da Europa. Património Mundial pela UNESCO desde 2013, integra 31 edifícios ligados às escolas de Medicina, Letras e Direito, entre outros.
Fruto de tempos e consequências do Covid19, encontramos o Paço das Escolas vazio quer de turistas quer de capas negras. Na verdade, se por um lado é uma visão desoladora, por outro emana tranquilidade. Dificilmente se encontra este espaço assim, visto ser o ponto de ligação de vários elementos de renome: o Paço Real, a Capela de São Miguel, a Biblioteca Joanina, a Sala dos Capelos, a Torre da Universidade, Museu da Ciência, a Galeria de Física e a Galeria de História Natural. Aqui defendem-se teses e elegem-se reitores. Todas estas estruturas são acessíveis por 12 euros e visitáveis das 9h às 17h.
A Torre da Universidade destaca-se pela imponência, marcando o relógio as horas para que ninguém em lugar algum se atrase para as aulas. A Capela de S.Miguel (lançada no séc.XI e de actual traço manuelino), azulejos do sec.XVII e um órgão de 2mil tubos, convida ainda a apanhar um pouco de sol nas suas escadas. A Biblioteca Joanina (1717, em honra de D. João V) é o seu ex-líbris: de estilo barroco com madeira trabalhada e estantes forradas a folha de ouro, é considerada uma das mais ricas bibliotecas europeias ostentando cerca de 60 mil livros dos séc.XVI a XVIII..
O nosso roteiro por Coimbra prossegue pelo Largo de São Salvador, onde encontramos outras duas Repúblicas. Numa casa “ricamente decorada” por objectos e memórias dos estudantes, situa-se no primeiro andar a República das Marias do Loureiro, feminista, anti-hierárquica e anti-praxe. No andar de cima, a República Baco só aceita homens. Este é um bom largo para sentar, tomar um café e petiscar qualquer coisa enquanto se sente o pulsar estudantil.
Se olharem com atenção, o Museu Machado de Castro tem um avançado em vidro que olha a ruela, e é para ai que nos dirigimos de seguida. Este museu tem exposições permanentes e temporárias na área das Belas Artes (arqueologia, escultura, pintura e artes decorativas), e os seus arcos fazem o enquadramento perfeito para mais uma fotografia. Aqui, há outra esplanada bastante convidativa com vista para o Mondego.