Desta vez não posso dizer que tenha trocado “trabalho por alojamento”, mas troquei a camera por estes pincéis.
O Hostel Tiradentes, em… Tiradentes!, devia estar fechado. Cheguei à estação de autocarros já passava das 20h, o mapa na aplicação do telemóvel a indicar-me 600 metros de caminho por uma estrada paralela à principal que não me agradou desde o início. Carregada com os meus 25Kgs de bagagem, e após finalmente ter abandonado (=doado) um par de ténis na última paragem, avanço pela noite escura e por esta estrada de ninguém.
À entrada, após atravessar um portão semi-encerrado, encontro um hostel vazio, com apenas um funcionário. Octávio acolheu-me, mas eu não me mostrei acolhida. O hostel era distante da rua principal e, uma vez mais, não tinha mais hóspedes. Não fiz por ver os quartos ou a área comum; agradeci o mais neutramente possível, e tentei procurar outra hospedagem mais próximo da paragem de autocarros.
Nessa mesma rua, o outro hostel disponível estava encerrado. Encontro um senhor que me indica para bater na porta em frente, de onde finalmente vinha algum sinal de vida. Igualmente, um hostel sem hóspedes, o valor significativamente acima do proposto anteriormente. Rendendo-me às evidências, volto ao ponto de partida.
Acedo em entrar e sou recebida pelo Octávio e a namorada, de cabelos longos escuros. A cozinha encontrava-se totalmente desarrumada e, no ar, um forte odor a tinta fresca. Sem me importar, informei que ficaria por duas noites, num quarto de 6 só para mim.
Nesses dois dias seguintes, e apesar de pouco tempo ter passado no Hostel, fomos quase uma família de 3. Passeámos na primeira noite pelo centro da cidade, onde havia um festival de Teatro e uma peça a decorrer dentro da igreja matriz. De manhã, umas pequenas broas faziam as nossas delícias. E, ao final da segunda tarde, pousei a mochila e agarrei nos pincéis tingidos de azul e amarelo. Não fiquei muito tempo, mas o sabor do chá, o cheiro do pequeno-almoço e as histórias partilhadas ficarão sempre gravadas nas paredes desta cozinha.